Fonte: Valor Econômico – 30/12/2013
Fim de ano, período de férias de verão do brasileiro. Quem está com viagem internacional marcada vai precisar de atenção redobrada. Na sexta-feira à noite, o governo elevou a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre transações com cartões de débito, pré-pago, compra de cheques de viagem (traveller checks) e saques de moeda estrangeira no exterior. A alíquota, que subiu de 0,38% para 6,38% – a mesma do cartão de crédito -, entrou em vigor já no sábado.
A medida tira a principal vantagem financeira do cartão pré-pago, ao equipará-lo ao cartão de crédito, no momento em que conquistava cada vez mais espaço nos gastos de brasileiros lá fora. E suscita a discussão: ainda vale a pena usar o pré-pago em viagens ao exterior ou o cartão de crédito deve voltar a ser usado com mais frequência? Levar mais dinheiro em espécie para fugir da tributação é recomendável?
Apesar da alta do IOF, corretoras não recomendam que o viajante leve mais dinheiro em espécie para pagar menos imposto, além do necessário para os pequenos gastos. Segundo Alexandre Gomes Fialho, diretor de planejamento do Banco Rendimento, dono da corretora de câmbio Cotação, o ideal é levar 80% do valor que a pessoa pretende gastar na viagem no pré-pago e apenas 20% em espécie. “O pré-pago é mais seguro e conveniente do que dinheiro em espécie”, diz.
No caso de perda ou roubo, ele pode ser bloqueado imediatamente e um outro pré-pago é enviado em um prazo médio de 48 horas no caso das principais capitais do mundo, o que não ocorre no cartão de crédito. Na corretora Máxima, diz o superintendente de câmbio, Ricardo Sales, o cartão é enviado com o mesmo saldo em até 72 horas. “Dependendo do país, a pessoa recebe antes.”
Para Mauricio Lima, gestor da rede de lojas Daycoval Câmbio, o cartão pré-pago mantém uma vantagem financeira sobre o cartão de crédito para viagens internacionais que não sejam aos Estados Unidos. Isso se deve a uma regra que faz com que a fatura do cartão precise ser sempre convertida para dólar americano antes de virar real. Nesse processo de múltiplas conversões, o cliente paga uma taxa de câmbio mais cara, afirma Lima.
Já no cartão pré-pago, o cliente tem a opção de comprá-lo já em algumas moedas estrangeiras diretamente, eliminando a necessidade de uma segunda conversão. É o caso, por exemplo, do euro, da libra e do dólar canadense. “Já constatamos uma diferença de até 5% quando o cliente opta pelo pré-pago nessas moedas ao invés do cartão de crédito.”
E isso vale também para o dinheiro em espécie. Em uma viagem para o Japão, exemplifica Fialho, se o viajante levar dólar em espécie e trocá-lo por iene em uma casa de câmbio local ele vai pagar, em média, de 15% a 20% de arbitragem. “Já o dólar no pré-pago será convertido na hora da compra com uma arbitragem de 4%”, diz Fialho, do Banco Rendimento.
Em relação ao cartão de crédito, o pré-pago tem ainda a vantagem de travar o câmbio. “Nesse momento de grande oscilação do câmbio, o pré-pago é mais seguro para não exceder os gastos”, afirma. Outra vantagem do pré-pago é o maior controle de gastos, especialmente para pais com filhos em viagens ao exterior ou em intercâmbio. “O pré-pago pode ser recarregado a distância e os pais têm acesso ao extrato de gastos dos filhos”, acrescenta Fialho.
Para Lima, do Daycoval, passado o choque inicial da medida, os clientes devem passar a enxergar que ainda há vantagens no pré-pago. Contudo, Lima acredita que o uso de dinheiro em espécie para viagens ao exterior vai crescer, uma vez que o custo é menor tanto em relação ao pré-pago como ao crédito.
Leticia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP, afirma que a nova regra pegou de surpresa muitas pessoas prestes a embarcar. “Eu vi bastante gente dizendo poxa, eu já comprei e carreguei o cartão pré-pago. Será que ainda vale a pena?, conta. Vale lembrar que a cobrança do IOF só ocorre quando o cartão pré-pago é carregado. “Quem já está com viagem marcada, provavelmente vai gastar menos do que esperava. E para quem ainda pretende viajar, vale o alerta de que é provável que o dólar turismo suba”, diz. Na visão de Leticia, deve haver um aumento da demanda por papel-moeda, o que pode elevar a cotação do dólar turismo. As pessoas vão preferir correr o risco de roubo e levar mais dinheiro, acredita.
Os viajantes também devem voltar a usar mais o cartão de crédito, na opinião dos especialistas. Mas eles alertam: o plástico deve ser utilizado apenas para situações de emergência. “Como estamos falando em finanças pessoais, no cartão de crédito, o limite parece que não existe. Ele estimula o descontrole”, diz Leticia.
Valter Police, planejador certificado, diz que o cartão de crédito tem suas vantagens. “Quando a pessoa vai alugar um carro ou fazer check-in num hotel, eles costumam pedir um número de cartão de crédito. Para esses momentos, o pré-pago não é indicado porque pode ultrapassar o limite de dinheiro carregado”, afirma. Outra vantagem é garantir benefícios, como seguro viagem, ao comprar a passagem com o cartão, ou acumular milhas. O maior problema é que a cotação da moeda só é descoberta no fechamento da fatura.
Mais do que definir quanto levar em papel-moeda ou no cartão pré-pago, um cuidado importante é verificar se os agentes de câmbio são credenciados pelo Banco Central. “Deve-se exigir o chamado boleto de câmbio, uma cópia do registro da operação de câmbio realizada”, alerta Luiz Ramos, diretor comercial do Grupo Fitta. Com todas as dicas e a passagem na mão, é hora de embarcar.